“Os índios se pintam para ir à luta, nós, mulheres também”.
Essa conhecida frase das redes sociais nos faz pensar em autoestima, fortalecimento pessoal, beleza, estilo, identidade, sensualidade e valorização de si mesmo, não é?
Porém por trás dela há mais, muito mais…
A pintura no rosto ou corpo é uma manifestação cultural encontrada há milênios em toda a humanidade, pelos mais variados motivos, tanto no oriente, como no ocidente.
PINTURA FALA EM TODAS AS CULTURAS
Na Índia, por exemplo, no dia de seus casamentos, as hindus têm seus corpos, incluindo dedos das mãos e pés, pintados com desenhos que assinalam sua nova condição assim como o rompimento com seu passado familiar original.
Na África também acontece: com vegetais, barro e matérias de rochas vulcânicas em tons ocre, vermelho e amarelo, pinturas para assinalarem situações especiais, como uniões, nascimentos e luto.
Exuberantes cobrem pernas, braços e rostos para assinalarem situações especiais, como uniões, nascimentos e luto.
CORPOS SÃO TELAS VIVAS QUE CONTAM HISTÓRIAS
Fato é que a pintura corporal é uma forma de expressão rica e poderosa, cheia de significados e simbolismos, e nesse aspecto, as comunidades indígenas se destacam por retratar a identidade cultural de uma etnia.
Imagine quantas formas de expressões diversas distribuídas em 305 etnias brasileiras! Quanta riqueza cultural marcando ocasiões e situações…
A força e a identidade, o poder e o orgulho de cada povo são registrados na pintura das peles curtidas pelo sol, criadas em plena natureza. Vem de lá, da mãe Terra, a matéria prima das cores e tintas. Da massa do Jenipapo ainda verde, sem o miolo num processo artesanal se obtém a cor preta. Já a tinta vermelha, se consegue num trabalho cuidadoso com a planta Urucum. O carvão e a argila branca também fazem parte da original paleta indígena.
PARTICULARIDADES ARTÍSTICAS QUE DEFINEM
Homens e mulheres indígenas possuem desenhos que os diferenciam e cores que podem ser usadas em ambos os sexos.
As pinturas ritualísticas são cotidianas e expressam as mais variadas situações como os ritos de passagens do jovem indígena menino ou menina para a vida adulta, as pajelanças, as caçadas, pescarias e festas. Cada momento é refletido em cores e formas particulares e únicas com suas nuances, simbologias e desenhos.
Com varetas, pedaços de galhos, madeiras e dedos, formas percorrem pernas, braços, tronco e rostos, identificando coletividades, conectando a espiritualidade.
A arte da pintura corporal indígena é mais que uma arte, é uma linguagem temática silenciosa que reverbera a ancestralidade de cada povo.
Rituais, valores, aprendizados e saberes são compartilhados em painéis temáticos humanos, tão profundos e belos que falam, gritam, chamam, comemoram e convocam para a vida, por mais mutável que seja a vida!
A LUTA DE CADA UMA DE NÓS
O que seria o batom e rímel senão a descoberta de nossa feminilidade? E o que dizer da paleta de sombras de tons crus e marrons para a entrevista de emprego? Ou ainda aquela produção caprichada ressaltando um olhar sensual para o primeiro encontro?
Também nós, mulheres ocidentais, temos os nossos rituais, nossas celebrações e ritos de passagens. Também nós usamos a pintura como símbolo que fala por nós: de nossas investidas românticas, de nossas escolhas profissionais, dos momentos alegres e festivos, de celebrações especiais e de nossos poderes.
Também nós, marcamos a nossa passagem e atuação no intenso teatro da vida cheio de pequenas e grandes lutas, nos pintando, nos fortalecendo e conquistando…
Por: Niara Maya