Os termômetros na rua marcavam 36 graus, mas a sensação térmica aliada à umidade do ar, dava a impressão de estar muito mais quente. Contudo, as altas temperaturas características de Manaus, não impediam que mulheres e crianças da comunidade indígena Sataré – Mawé da etnia Waikiru, do baixo Amazonas, transitassem entre as pessoas que lotavam o calçadão naquela tarde de verão…
Reservado, mas ainda assim articulado, o pequeno grupo indígena abordava potenciais clientes para oferecerem seus colares, brincos e pulseiras, criativamente produzidos com sementes de tucumã, muru-muru, jarina e ingarana. Coloridos, alegres e festivos, os acessórios que brilhavam ao sol, chamavam a atenção das mulheres que passavam apressadas pelo centro da cidade em fim de expediente.
Essa era a rotina das mulheres artesãs do baixo Amazonas, que pelo menos duas vezes por semana iam ao centro de Manaus para exporem seus belos trabalhos, na falta de um lugar físico para vendê-los..
O FILHO SOLIDÁRIO DO COMÉRCIO COLABORATIVO
No extremo do país, em algumas cidades do interior da cosmopolita São Paulo, vemos nas vitrines da Amazonia Vital, as lindas pulseiras e incríveis colares originários das Florestas Amazônicas. Um olhar mais atento às peças que se misturam com iluminadas pulseiras feitas
em capim dourado e outros acessórios com sementes, mostra que o espaço físico que faltava no norte do país surgiu fraternalmente no sudeste. Estamos falando do comércio inclusivo, filho solidário do comércio colaborativo: um movimento social que vem acontecendo mundo afora na busca de se construir relações comerciais mais transparentes e democráticas, com base na inclusão e respeito aos padrões sociais e ambientais de toda a cadeia produtiva.
A proteção aos direitos humanos e a diversidade proporcionando a inclusão de mercadorias artesanais e únicas, é outro aspecto desse comércio que parece fazer parte de uma sociedade mais coletiva e mais conectada com o todo.
PORTAS E VITRINES ABERTAS PARA A INCLUSÃO
Essa economia solidária que valoriza o ser humano e suas potencialidades criativas é uma alternativa inovadora na geração de trabalho e na inclusão social, numa corrente do bem que acaba integrando quem produz, quem vende e quem compra.
No caso dos nossos irmãos indígenas da etnia Waikiru, que encontraram as portas e vitrines da Amazonia Vital abertas para seus produtos, significou mais um canal de vendas e exposição de seus produtos.
Essa corrente do bem acaba promovendo a emancipação de muitos brasileiros que sempre estiveram a margem do emprego e do mercado formal. Outro aspecto que ganha importância é a divulgação de coleções que falam a língua do Brasil em sua matéria prima nativa das florestas. São sementes, palha, resinas, folhas e penas que acabam registrando a nossa riqueza natural.
Quem não se encanta diante de um colar feito de sementes de ingarana? Um desses modelos, exótico e poderoso faz parte da seção de acessórios da Amazonia Vital.
WAIMIRI ATROARI
Da etnia Waimiri Atroari, também conhecido como povo Kinja, localizado ao norte do Amazonas e em parte do território de Roraima, a Amazonia Vital trouxe a icônica pulseira Waryma Kaha. Feita pelas mulheres em fibra de arumã é tradicionalmente usada na proteção do pulso contra o impacto da corda do arco e também como enfeite e adorno.
O curioso a respeito dessa pulseira, é que não tem começo e nem fim, porque o início da trança é encaixado no final numa sequência única. A medida que se vai colocando a pulseira o símbolo do infinito vai sendo formado.
CAPIM DOURADO
Também o capim dourado, matéria prima dos artesãos quilombolas da região do Jalapão, tem acesso garantido às vitrines da Amazonia Vital. Colares, pulseiras, brincos, pulseiras e bolsas delicadas conquistaram o mercado nacional e internacional criando possibilidades incríveis de looks leves e sofisticados que registram a criatividade e a sofisticação dos artistas e designers brasileiros. Motivo e razão de orgulho para todos nós.
A SOLIDARIEDADE ABRANGE MICROEMPREENDEDORES LOCAIS
Mulheres, micro empreendedoras da cidade de Vargem Grande Paulista, também foram beneficiadas com o comércio inclusivo que é praticado na Amazonia Vital. A loja da cidade, uma das seis da marca, abre espaço para exposição de semijoias e cosméticos de comerciantes que não possuem espaço físico local.
Pelo menos duas vezes por mês, as clientes da Amazonia Vital têm acesso a esses produtos na loja com preços mais acessíveis e justos.
A iniciativa mostra que a inclusão veio para acolher, compartilhar, divulgar e fidelizar um novo comportamento nas relações de venda e compra, onde todos se beneficiam. Parece que a competição e a concorrência deram lugar a equidade, a e a solidariedade, gestos que não podem ser precificados no comércio inclusivo. Um comércio que veio para ficar em tempos de uma humanidade mais consciente e fraterna.
Por Priscilla Wilmers Bruce