De olho no mundo

A PANDEMIA, A FELICIDADE E UMA SACOLA

Clarice acordou pensando na pergunta feita por sua amiga.

Você é feliz?   

Sem pensar, respondeu  para Ana: – -Ah, tenho tudo o que quero como resultado do meu trabalho. Viajo para lugares comuns ou exóticos, não passo desejo diante de uma vitrine bonita, tenho amigos incríveis, um namorado com que sempre sonhei, sem falsa modéstia sou uma mulher bonita e culta, e claro, sou muito bem sucedida na minha profissão.  Por que não seria feliz?! Concluiu a advogada, devolvendo a pergunta à Ana.

Ana, atenta deu um longo suspiro e concluiu : – Clarice, não sei, mas me parece que sua felicidade é condicionada a tudo o que conquistou. Mas será que se seus amigos a deixarem, seu namorado for embora e seu trabalho der uma guinada continuará sentindo-se feliz?

Clarice riu da ingenuidade da amiga e mudou de assunto, não pretendendo se aprofundar em algo que achava sem sentido ou propósito. Mas no dia seguinte, a primeira coisa que fez ao abrir os olhos foi lembrar de Ana filosofando provocativamente a respeito de sua felicidade.

 

O CONCEITO DA FELICIDADE

Como Clarice aprendemos a selecionar ao longo de nossas jornadas o que nos fará felizes. Uma graduação e o reconhecimento público de nossa atuação profissional,  um padrão estético dentro do que está estabelecido como belo, amigos, relacionamento estável e duradouro, uma casa, um bom carro, viagens, passeios, desejos materiais atendidos…Enfim uma lista de condicionamentos que varia de pessoa para pessoa, mas que de modo geral gira em torno de certas situações estabelecidas.

Ouvimos de nossos pais que para sermos felizes precisamos nos esforça e lutar para encontrar condições materiais para alcançarmos esse tão desejável estado de coisas, e, que quase sempre envolve bem estar, conforto, autovalorização e destaque.

Porém como a vida tem um script dinâmico e muitas vezes sem o nosso controle, não é incomum que uma, duas ou três situações deixem de existir em nossos caminhos. E aí fatalmente chega a conta das nossas frustrações, decepções e ilusões.

 

 EM QUANTAS CESTAS COLOCA SEUS OVOS?

Exatamente aí, se encaixa a pergunta filosófica de Ana para a amiga Clarice. Estabelecer condições e situações externas para ser feliz é algo instável,  inseguro e fugaz…

Sabe por quê? Já percebeu quanto tempo dura o nosso entusiasmo diante de uma joia há muito tempo desejada e alcançada? Ou ainda diante daquele carro ultra moderno e símbolo do status que tanto perseguimos?

O tempo de nos acostumarmos com a conquista almejada e então achamos tão natural aquilo em nossas vidas que passamos a desejar outras coisas, e nessas novas coisas passamos a depositar a esperança de um novo paradigma de felicidade que estabelecemos para nós! Pensamos alto: – Ah, quando eu comprar aquela cobertura na Vieira Souto vou ser feliz…Ah, a hora que eu conquistar aquele homem para minha vida, serei feliz…-Ah, depois que eu fizer a plástica que vai me transformar, serei feliz…

Não que conquistas como essas não possam ser significativas e de certa forma colaborarem com um estado de felicidade e realização.  É humano, nos sentirmos especiais ao conquistarmos aquilo que exigiu de nós tempo, sacrifícios e dedicação.

Mas a questão é que colocamos o resultado da nossa felicidade em situações que podem ou não acontecer,  e,  acontecendo podem escapar de nossas mãos, e levar a nossa felicidade embora, nos deixando órfãos de sensações que achávamos que eram tudo para nós.

 

A OUTRA CESTA

Fama, Fortuna, beleza e Inteligência podem ser cestas boas, reforçadas por padrões desejáveis a todos nós,  e que se assemelham ao que mais queremos em nossas existências,  que é sermos amados!

No fundo, buscamos aprovação em vários níveis de nossas vidas porque parece-nos que esse é  o primeiro degrau da escada que nos leva à felicidade.

Mas será que não podemos buscar o caminho da felicidade em conquistas mais sólidas em que ninguém e nenhuma situação poderá tirar de nós? Será que é possível encontrar a felicidade com mais consistência e frequência sem o medo de perdê-la de uma hora para outra?

Era aí que Ana queria chegar na conversa com a amiga.

 

 NOVOS CAMINHOS

  É  no potencial que nossa mente e coração possuem, desenvolvendo sentimentos-sementes  como empatia, acolhimento, fraternidade, reconhecimento, gratidão e resiliência em que podemos semear e ver frutificar a felicidade autêntica e genuína, aquela que ninguém tira de nós.

Sabe por que? Porque a felicidade real não está condicionada a termos coisas mas a um estado de espírito, de sermos, e,  acima de tudo, de promovermos aos outros a conquista de bens maiores. Imagine alguém cheio de dor, uma dor moral muito intensa e você estende a sua escuta amorosa a essa pessoa sem julgamentos. Que sensação inebriante não irá sentir por ter trazido um pouco de paz e leveza a esse alguém?

Fazer diferença no dia ou no momento de alguém é algo muito significativo e poderoso. Aciona em nós hormônios do equilíbrio, bem estar e felicidade como  endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina. Substâncias naturais que nenhum carro novo vai nos dar…

A conclusão de Ana, amiga de Clarice foi refletida e ponderada. Ela  percebeu que nessa pandemia que assolou o Planeta e mais especificamente o nosso Brasil, foram gestos de afeto, de empatia e de acolhimento que diminuíram as dores e perdas. Acima de tudo, Ana conseguiu situar a felicidade real.

– Sabe Clarice, percebi que a felicidade parece estar em tudo o que não podemos carregar numa sacola e estar em tudo o que podemos levar no coração!

Isso faz sentido para você?

 

  COMO ENCONTRARMOS ESSAS CESTAS

As religiões com suas particularidades podem ser um caminho na busca de transformações pessoais já que a questão ética e moral geralmente as movem.

Muitas delas propõem ações práticas e imersão no conhecimento de si mesmo. Religião, no sentido da etimologia significa religação, reconexão com a fonte, origem de nossas existências.

Buscamos um sentido para nossas vidas que esteja além de nós e de nossas capacidades. As religiões confortam, esclarecem e fortalecem na medida em que nos encaixamos e nos reconhecemos numa delas.

Há um segundo caminho que nos educa e orienta no encontro com o melhor de nós,  aquilo que temos em semente e que potencialmente pode se transformar em árvore frondosa com sombras e frutos a favor de nós e dos outros.  É a meditação!

Muitos de nós acreditam que meditar é parar de pensar, mas é  justamente o oposto disso. É acolher o pensamento com generosidade para depois deixá-lo partir. Meditar é imaginar um copo de água com areia. O copo está turvo, sujo e escuro. Assim é  a nossa mente sobrecarregada de angústias, medos e aflições.

Mas se deixamos a areia do copo descer ao fundo e lá ficar depositada, teremos a água acima da areia limpa, transparente e iluminada. Exatamente como fica a nossa mente ao meditarmos. Nossos pensamentos deitam no fundo e acima se apresenta a lucidez e a clareza do que buscamos, queremos e precisamos.

 

COMPARTILHAMOS O MELHOR

 Se você chegou até aqui na leitura desse artigo, pode estar se perguntando: – Por que um blog de uma marca de roupas femininas escreveria um texto sobre felicidade genuína?

A resposta é  simples: fazemos moda e nossa moda carrega nossa brasilidade. A marca da brasilidade é o seu povo. Um belo, colorido, misturado e único povo. Nessa pandemia seguimos nos reinventando na busca da felicidade genuína, aquela felicidade de que fala a Ana, amiga de Clarice.

Aquela sabe? Que não cabe numa sacola…mas que cabe sempre no que o Brasil tem de melhor : seu acolhimento e fraternidade!

https://www.amazoniavital.com.br/

Por Priscilla Wilmers Bruce

Você também pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *